terça-feira, 14 de novembro de 2017

Entre ficção e realidade, tanto nos Estado Unidos quanto no Brasil são grandes as evidências da falência da democracia como a conhecemos.

   Em recente artigo publicado no Blog Midium, Caitlin Johnstone explica como pode ter certeza de que o promotor Robert Mueller não conseguirá provar que houve conluio entre Trump e a Rússia, conhecido como Russiagate. Para ela, a partir dos vazamentos de Snowden, tornou-se público que a comunidade de inteligência dos Estados Unidos e seus aliados têm a maior, mais sofisticada e mais invasiva rede de segurança da história da humanidade. Logo, deduz, se tivesse havido o conluio teria sido descoberto e vazado para o New York Time ou Whashington Post no ano passado. E assegura que Mueller, com sua estratégia de seguir o dinheiro, não tem a eficácia da rede orwelliana (de George Orwell – 1984) de espionagem.
   A partir dessa constatação, ela direciona sua análise do porque do Russiagate ocupar primeiro lugar na cobertura da mídia corporativa, de uma forma que vem “escalando tensões com uma superpotência nuclear, estancando o discurso político na América e insuflando um frenesi que alimenta a histeria e a xenofobia de macartistas” conforme uma outra postagem sua, publicada no Hackernoon

   O envolvimento da sociedade, segundo Caitlin, só é possível porque “Os seres humanos são criadores de histórias. A faceta mais significativa e mais subestimada de nossa existência é o quanto da nossa interface com o mundo consiste, não da nossa experiência direta, mas de nossas histórias mentais sobre isso. Combinando esse fato com o século de pesquisa e desenvolvimento direcionados para refinar as táticas de propaganda e o estrangulamento da plutocracia dos EUA na mídia dominante, e você obtém uma nação perdida nas narrativas do estabilishment. As pessoas formam suas visões de mundo com base em fantasmas da mente em vez de fatos concretos.”
   Ela insiste que, apesar da intensa propaganda da mídia, as evidências do conluio continuam zero, porém o processo é tão intenso, do tipo 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana) que seu posicionamento é criticado por aqueles que mantém-se leais ao stabilishment e a consideram não estar bem informada. As pessoas vão então consumindo a propaganda como se fossem fatos reais.
   Por causa desse comportamento, os Russiagaters – como são identificados os partidários da tese do envolvimento da Rússia nas eleições de Trump -, “acham que essa sua certeza de que o conluio nunca será comprovado é bastante corrosiva. Para eles, cuja visão de mundo decorre apenas da narrativa – literalmente, nada além de afirmações de especialistas que falam em um tom de voz confiante -, quando encontram alguém fazendo o mesmo, mas com fatos concretos, isso lhes causa desconforto psicológico. Esse desconforto é chamado de dissonância cognitiva. É o que sentem como sendo o errado.”
   Ela admite que ao focar nos fatos concretos, para além de apoiadores e detratores, Trump está fazendo coisas realmente medíocres, porém nada muito diferente dos seus antecessores. Reconhece que os republicanos são horríveis e que ele diz coisas muito rudes no twitter. Acrescente-se a isso a brutalização psicológica da mídia corporativa, que durante os últimos 2 anos vem dizendo aos americanos que Trump é um inimigo nazista e que transformaria o país numa cratera em chamas. Pode-se compreender porque as pessoas estão com pressa para vê-lo fora do cargo.
   Das conversas com os Russiagaters, Caitlin resume:
“o Impeachment de Trump é a punição em busca de um crime. As pessoas foram atraídas para um estado de medo frenético por psicopatas do establishment, e eles querem que Mueller puxe um deus ex-machina e os salve do monstro laranja malvado. Eles acreditam que Mueller vai conseguir que Trump venha a sofrer impeachment pelo conluio com a Rússia, porque eles querem muito.
Isso não acontecerá. Deus ex-Mueller não está vindo. Você terá que resolver os problemas do seu país, América.”
E conclui:
“Isso é realmente uma coisa boa, porque Trump não é a fonte dos problemas do país. Acreditar que um impeachment de Trump irá consertar alguns dos maiores problemas da América é como acreditar que os supressores de tosse possam curar a pneumonia.
O problema não é Trump. O problema é que a América é governada por um establishment de poder não eleito que mantém-se no governo sabotando a democracia, exacerbando a injustiça econômica e expandindo a máquina de guerra dos EUA. Pare de ouvir as mentiras que eles colocam em suas câmaras de eco e se voltem para enfrentar seus demônios reais.”
Para nós, brasileiros, substituir TRUMP por DILMA na narrativa de Caitlin, tendo o cuidado de também substituir o Conluio com a Rússia pelas “pedaladas” fiscais que foram posteriormente comprovadas nunca terem existido, revela o modus operando daqueles que, sem serem eleitos, procuram governar a partir de uma retórica propagandeada 24/7, na qual se transforma o “alvo” primeiro num “monstro”, a ponto de estimular nas pessoas o medo da sua permanência no poder e em seguida busca-se criar o” crime” para justificar seu afastamento.
Mais ainda, para aqueles que achavam que DILMA era o problema do Brasil, agora estão vendo o que está ocorrendo no país depois do êxito no golpe: o establishment “mantém-se no governo sabotando a democracia e exacerbando a injustiça econômica” conforme denunciou Caitlin em sua conclusão.
Ao afirmar que nos Estados Unidos não ocorrerá o impeachment de Trump, a jornalista faz uma aposta de que, não existindo evidências de crime, as instituições norte-americanas não admitirão tamanha sandice. Resta saber até onde a força da narrativa golpista e os “lobbies” junto ao Congresso Americano não conseguirão seu objetivo.
Na série House of Card, o Presidente dos Estados Unidos na ficção, Franc Underwood, no último capítulo exibido, levanta uma questão: “Onde está o verdadeiro poder? O poder atrás do poder.” E de dentro da Casa Branca, conclui: “O poder verdadeiro não está aqui. Está além daqui. Está acima daqui mas ainda trabalha em conjunto com ela.”
Sua narrativa coincide com a definição que Caitlin faz do establishment que governa sem ser eleito. Alguns capítulos antes desse último, o mesmo Franc brinda o telespectador com uma outra análise sobre o comportamento do Congresso Americano na ficção.
Ele diz: “A identidade do próximo presidente destes Estados Unidos está novamente nas mãos de políticos egoístas, loucos por dinheiro, puxa-sacos e sedentes de poder, que podem ser seduzidos, traídos ou subornados para se submeterem
No Brasil, a ficção e a realidade caminharam par e passo no processo de impeachment da presidenta Dilma e todos assistimos, ao vivo e à cores, o nefasto espetáculo do assassinato da democracia. Resta saber se o comportamento do Congresso dos Estados Unidos, quando tiver que definir o futuro do presidente, estará mais próximo do que acredita Caitlin ou da ficção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário