sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Estados Unidos e Brasil. Dois textos reveladores de um mesmo objetivo: fortalecer a agenda política da direita

Na última postagem aqui publicada foquei minha análise nas similaridades entre o que está acontecendo na política nos Estados Unidos e o que aconteceu no Brasil.

Essa semana me deparei com duas postagens de duas jornalistas as quais muito respeito em termos de análise política: Caitlin Jonhstone, no Blog Midium e Teresa Cruvinel, no Jornal Eletrônico 247.

Começando pelo texto de Teresa, ela demonstra que a antecipação do julgamento de Lula para 24/01 e toda contradição que está por trás da decisão do poder judiciário, não encerará a disputa em questão.

Diz ela: “o jogo vai além de Lula e não termina em 24 de janeiro. Haverá ainda jogo jurídico, pois mesmo com Lula condenado e esgotados os recursos na segunda instância antes de agosto, ele pode reabrir a batalha judicial, nos tribunais superiores, quando tentar registrar sua candidatura e ela for indeferida. Poderá concorrer sub judice, como fizeram muitos prefeitos em 2016, com toda a carga de incerteza que isso traria para a disputa.”

Seguindo nessa análise, Teresa avalia que se Lula não puder ser candidato, encarnando o anti-golpismo, outro candidato do PT ou da centro-esquerda, tendo Lula como cabo eleitoral, terá amplas chances de derrotar os representantes do golpe. E então conclui: “Depois de terem se apossado do Estado e do governo sem o voto e o consentimento popular, eles não terão limites na escaramuça para conservá-lo. Se for preciso, mandam as aparências que ainda restam às favas e escancaram o Estado de Exceção.”

É sem dúvidas um cenário provável, mas com consequências imprevisíveis para o futuro do país, porque ensejará um maior recrudescimento das forças sociais, podendo desaguar num cenário de muita instabilidade.

E é aqui que entra a análise de Caitlin da estratégia da direita nos Estados Unidos. Partindo da compreensão de que o anti-trumpismo é um anti-progressivismo disfarçado, mesmo sem deixar de ser muito dura nas críticas às políticas do governo Trump, ela demonstra como a esquerda do Partido Democrata foi capturada pela agenda de centro, a partir do discurso que ela chamou de “Mas Trump”, bem identificada com os interesses das “corporações prostitutas imperialistas”.

A receita parece simples, as corporações construíram uma imagem negativa de Trump para difundir o medo junto ao eleitorado, e depois capturam a agenda da esquerda com sucessivas concessões à direita, a partir do fator “Mas Trump”.

Ao divulgar sua análise, Caitlin enfrentou o debate com leais ao Partido Democrata. Segundo eles, é possível manter uma agenda anti-Trump – Impeachment/Russiagate – e ao mesmo tempo sustentar uma agenda progressista. Ela responde dizendo que eles não podem e não fazem essa combinação. Cita alguns exemplos de escolhas políticas envolvendo até manipulação na eleição da Comissão Nacional do Democrata entre outras e que a esquerda ou concordou ou se conformou com uma decisão conservadora, sob o argumento do “Mas Trump”. “É muito mais complexo do que caminhar e mascar chicletes. É como caminhar pra esquerda e pegar um avião para a direita.”

Ao final do texto, ela provoca e ao mesmo tempo exorta a esquerda, a assumir uma nova postura. “Continue apoiando a narrativa de impeachment/Russiagate e você estará facilitando o trabalho dos fazendeiros, enquanto caminha diretamente para o matadouro. Eles vão dizendo ”Mas Trump!" e você vai concordando, até parar de deixar o medo e as narrativas corporativas dominar suas mentes e começar a pressionar pelo que realmente quer para si.”
A partir da análise da estratégia da direita nos Estados Unidos, é possível oferecer alguma contribuição para ajudar na construção de cenários no qual poderão ocorrer as eleições presidenciais no Brasil.

Cercear o direito de Lula disputar as próximas eleições seja por sua prisão, seja por impedi-lo de concorrer fortaleceria sua imagem de mártir, cujo peso do apoio aumentaria as chances de vitória de um candidato anti-golpe que viesse a apoiar e que represente o resgate da o resgate da agenda pro-Brasil que nos governos petistas predominou as políticas públicas e que está sendo destruída pelos golpistas.

A direita, aqui me referindo ao grande capital apoiado pelo imperialismo, precisaria encontrar um candidato – se já não o fez e mantém segredo – que com ela não tenha identidade mas que não terá força política para derrubar os retrocessos implantados pelos atuais golpistas. Nesse cenário, Lula será habilitado a concorrer às eleições, e através da ação articulada do stabilishment e da mídia será impregnado nele a imagem de um condenado, de modo a, durante a campanha, montarem a estratégia de “Mas Lula”. Conduzido por essa estratégia, os setores menos ideológicos ou menos esclarecidos tenderá a refluir no seu apoio a Lula. Os setores da direita nunca tiveram menos de 30% dos votos. Essa combinação, poderá não assegurar um aumento expressivo nos votos nesse candidato de “centro”, mas poderá ampliar os votos em “ninguém” - soma de absenteísmo, brancos e nulos” - fazendo com que uma votação superior aos atuais patamares dos votos da direita, seja suficiente para obter a maioria dos votos válidos, como ocorreu com Dória em São Paulo.

Qualquer caminho para os setores da Direita terá ganhos e perdas. A instabilidade política é ruim para os negócios. Logo, impedir Lula de disputar a eleição será a segunda melhor opção. A primeira será derrotá-lo nas urnas. E isso será possível?

Do cálculo desse risco emergirá a escolha da Direita que controla a mídia e o judiciário. Em última instância, como disse Teresa, “mandam as aparências que ainda restam às favas e escancaram o Estado de Exceção”.

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