Na última postagem
aqui publicada foquei minha análise nas similaridades entre o que
está acontecendo na política nos Estados Unidos e o que aconteceu
no Brasil.
Essa semana me
deparei com duas postagens de duas jornalistas as quais muito
respeito em termos de análise política: Caitlin Jonhstone, no Blog
Midium e Teresa Cruvinel, no Jornal Eletrônico 247.
Começando pelo
texto de Teresa, ela demonstra que a antecipação do julgamento de
Lula para 24/01 e toda contradição que está por trás da decisão
do poder judiciário, não encerará a disputa em questão.
Diz ela: “o jogo
vai além de Lula e não termina em 24 de janeiro. Haverá ainda jogo
jurídico, pois mesmo com Lula condenado e esgotados os recursos na
segunda instância antes de agosto, ele pode reabrir a batalha
judicial, nos tribunais superiores, quando tentar registrar sua
candidatura e ela for indeferida. Poderá concorrer sub judice, como
fizeram muitos prefeitos em 2016, com toda a carga de incerteza que
isso traria para a disputa.”
Seguindo nessa
análise, Teresa avalia que se Lula não puder ser candidato,
encarnando o anti-golpismo, outro candidato do PT ou da
centro-esquerda, tendo Lula como cabo eleitoral, terá amplas chances
de derrotar os representantes do golpe. E então conclui: “Depois
de terem se apossado do Estado e do governo sem o voto e o
consentimento popular, eles não terão limites na escaramuça para
conservá-lo. Se for preciso, mandam as aparências que ainda restam
às favas e escancaram o Estado de Exceção.”
É sem dúvidas um
cenário provável, mas com consequências imprevisíveis para o
futuro do país, porque ensejará um maior recrudescimento das forças
sociais, podendo desaguar num cenário de muita instabilidade.
E é aqui que entra
a análise de Caitlin da estratégia da direita nos Estados Unidos.
Partindo da compreensão de que o anti-trumpismo é um
anti-progressivismo disfarçado, mesmo sem deixar de ser muito dura
nas críticas às políticas do governo Trump, ela demonstra como a
esquerda do Partido Democrata foi capturada pela agenda de centro, a
partir do discurso que ela chamou de “Mas Trump”, bem
identificada com os interesses das “corporações prostitutas
imperialistas”.
A receita parece
simples, as corporações construíram uma imagem negativa de Trump
para difundir o medo junto ao eleitorado, e depois capturam a agenda
da esquerda com sucessivas concessões à direita, a partir do fator
“Mas Trump”.
Ao divulgar sua
análise, Caitlin enfrentou o debate com leais ao Partido Democrata.
Segundo eles, é possível manter uma agenda anti-Trump –
Impeachment/Russiagate – e ao mesmo tempo sustentar uma agenda
progressista. Ela responde dizendo que eles não podem e não fazem
essa combinação. Cita alguns exemplos de escolhas políticas
envolvendo até manipulação na eleição da Comissão Nacional do
Democrata entre outras e que a esquerda ou concordou ou se conformou
com uma decisão conservadora, sob o argumento do “Mas Trump”.
“É muito mais complexo do que caminhar e mascar chicletes. É como
caminhar pra esquerda e pegar um avião para a direita.”
Ao final do texto,
ela provoca e ao mesmo tempo exorta a esquerda, a assumir uma nova
postura. “Continue apoiando a narrativa de impeachment/Russiagate e
você estará facilitando o trabalho dos fazendeiros, enquanto
caminha diretamente para o matadouro. Eles vão dizendo ”Mas
Trump!" e você vai concordando, até parar de deixar o medo e
as narrativas corporativas dominar suas mentes e começar a
pressionar pelo que realmente quer para si.”
A partir da análise
da estratégia da direita nos Estados Unidos, é possível oferecer
alguma contribuição para ajudar na construção de cenários no
qual poderão ocorrer as eleições presidenciais no Brasil.
Cercear o direito de
Lula disputar as próximas eleições seja por sua prisão, seja por
impedi-lo de concorrer fortaleceria sua imagem de mártir, cujo peso
do apoio aumentaria as chances de vitória de um candidato anti-golpe
que viesse a apoiar e que represente o resgate da o resgate da agenda
pro-Brasil que nos governos petistas predominou as políticas
públicas e que está sendo destruída pelos golpistas.
A direita, aqui me
referindo ao grande capital apoiado pelo imperialismo, precisaria
encontrar um candidato – se já não o fez e mantém segredo –
que com ela não tenha identidade mas que não terá força política
para derrubar os retrocessos implantados pelos atuais golpistas.
Nesse cenário, Lula será habilitado a concorrer às eleições, e
através da ação articulada do stabilishment e da mídia será
impregnado nele a imagem de um condenado, de modo a, durante a
campanha, montarem a estratégia de “Mas Lula”. Conduzido por
essa estratégia, os setores menos ideológicos ou menos esclarecidos
tenderá a refluir no seu apoio a Lula. Os setores da direita nunca
tiveram menos de 30% dos votos. Essa combinação, poderá não
assegurar um aumento expressivo nos votos nesse candidato de
“centro”, mas poderá ampliar os votos em “ninguém” - soma
de absenteísmo, brancos e nulos” - fazendo com que uma votação
superior aos atuais patamares dos votos da direita, seja suficiente
para obter a maioria dos votos válidos, como ocorreu com Dória em
São Paulo.
Qualquer caminho
para os setores da Direita terá ganhos e perdas. A instabilidade
política é ruim para os negócios. Logo, impedir Lula de disputar a
eleição será a segunda melhor opção. A primeira será derrotá-lo
nas urnas. E isso será possível?
Do cálculo desse
risco emergirá a escolha da Direita que controla a mídia e o
judiciário. Em última instância, como disse Teresa, “mandam as
aparências que ainda restam às favas e escancaram o Estado de
Exceção”.
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