quarta-feira, 15 de março de 2017

E se o Brasil tivesse aderido a ALCA?

Em tempos de pouca memória, vale recordar as escolhas que o país fez há 15 anos atrás, em face do cenário atual da economia mundial. Uma das mais significativas delas foi a escolha de não aderir a ALCA. 
Voltando no tempo, e recordando os papéis dos vários atores políticos da época.
Lá em 2002, Aécio Neve assinou o prefácio das resoluções do Seminário O Brasil e a ALCA, promovido pela Câmara dos Deputados, na qualidade de Presidente e que assim se expressava:
...há que se ressaltar o caráter relativamente urgente de tão ambicioso empreendimento. Com efeito, não defrontamos com um mero protocolo de intenções, mas, sim, somos partícipes de um acordo já firmado sobre o cronograma das correspondentes negociações, o qual prevê a conclusão dos entendimentos no horizonte já visível do ano de 2005 Veja aqui a  Resolução do Seminário
Em oposição a visão dos tucanos, outros atores, dentro e fora do governo FHC, também se posicionavam. As críticas feita por integrantes do governo eram enfrentadas com perseguição política. A mais notável delas foi endereçada ao Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que tornou pública sua posição em entrevista concedida ao Jornal Valor Econômico, em 2 de fevereiro de 2001, tendo sido exonerado do cargo de Diretor do Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais (IPRI) do Itamarati. Sua punição foi denunciada, entre outros veículos, na Revista Caros Amigos, em entrevista concedida a Marina Amaral, João de Barros, José Arbex Jr., Wagner Nabuco, Sérgio de Souza.

Ainda pelo lado dos opositores varias iniciativas dos movimentos sociais foram realizadas. Entre elas pode-se destacar um artigo na Revista Movimento, da UNE, com o Título: Alca: A Colonização dos Cérebros e dos Espíritos, de autoria de Gisela Mendonça,  e a mais importante de todas: a realização de um plebiscito que envolveu os movimentos sociais, o movimento sindical, a CNBB a OAB, partidos políticos e várias outras organizações populares. O plebiscito ocorreu em 3.894 municípios, teve 10.149.542 votantes, sendo que do total 98%, ou 9.979.964 pessoas, disseram não a assinatura do acordo com a Alca. Um por cento, ou 113.643, manifestaram-se a favor da adesão do Brasil ao bloco econômico defendido pelos Estados Unidos. Ainda em relação as outras perguntas feitas no plebiscito, 96% defendiam que o governo brasileiro suspendesse as negociações da ALCA e 99% se manifestaram contrários à cessão da base de Alcântara para uso do governo dos Estados Unidos.
Um fato relevante da conjuntura daquela época, contribuía para o empoderamento da sociedade e a fragilidade do governo e do congresso para não seguir adiante com o plano de entregar nossas riquezas e subordinar o país ao modelo proposto pela ALCA: Lula liderava as pesquisas para a Presidência da República e já havia assim se manifestado em relação o tema:
Em várias oportunidades, tenho deixado claro que a proposta da ALCA (Área deLivre Comércio das Américas) significa na prática uma espécie de anexação das economias latino-americanas à economia dos Estados Unidos, causando enormes prejuízos à nossa indústria, agricultura, comércio, serviços - e à nossa própria cultura. Luis Inácio Lula da Silva - Veja a íntegra do artigo
Passados 15 anos daquele movimento e tendo Lula vencido as eleições, o Brasil, de forma diplomática, afastou-se da ALCA e desenvolveu uma política internacional focada na ampliação das relações com outros países, reduzindo sua dependência da economia norte-americana e construindo novos blocos econômicos que foram fundamentais para que o país suportasse a crise da economia mundial iniciada em 2008, cujo epicentro estava localizado nos Estados Unidos

Seguindo em outra direção, o México aderiu ao NAFTA - Acordo de Livre Comércio que envolve México, Estados Unidos e Canadá - em 1992, quando era presidido por Salinas de Gotary, um "US Educated" conforme definição do subsecretário de Estado do governo norte-americano, em matéria publicada na News Week de janeiro de 1995

Um balanço feito 20 anos depois e publicado na Carta Maior com o título: "10 dados que provam que o Nafta não beneficiou o México" revelou o quanto o acordo foi nocivo aos interesses dos mexicanos.

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